Centros esportivos da Olimpíada Rio 2016 apostam na arquitetura nômade

Conheça estádios e arenas que, ao final do evento, serão modificados e incorporados à vida da cidade

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Os Jogos Olímpicos já encheram os olhos do mundo com arquitetura, a partir do momento em que o Japão entendeu por bem, em 1964, fazer deles uma vitrine do país anfitrião. A ideia nascida em Tóquio prosseguiu até 2008, quando Pequim causou alvoroço com seu Ninho de Pássaro, um estádio monumental concebido pelo escritório suíço Herzog & de Meuron e hoje subutilizado, assim como outras belas obras feitas para a ocasião. Nas quatro áreas do Rio de Janeiro em que os jogos irão ocorrer, tão importante quanto as competições será o seu legado
uma vez terminado o evento.

Desde Londres, em 2012, a premissa de uma arquitetura que pode ser transportada para outros lugares começou a se forjar. Aqui, ganhou uma dimensão efetiva. “Levamos essa ideia ao extremo”, conta o arquiteto e secretário da Prefeitura para assuntos urbanos Washington Fajardo. O exemplo mais radical é a Arena do Futuro. Ela será desmontada e transformada em quatro escolas municipais. Não se trata de um projeto posterior. Elas foram pensadas, desde o primeiro esboço, levando em consideração os terrenos onde serão implantadas.

A proposta de dar outros fins a uma construção olímpica, no entanto, se restringe à Arena do Futuro e ao Estádio Aquático – as demais instalações serão adaptadas, sempre voltadas aos esportes. Se essa é uma nova tendência, poderemos conferir no Rio e daqui a quatro anos, quando os Jogos retornam a Tóquio. Confira a seguir os cinco highlights da Olimpíada carioca.

Arena da Juventude – Vigliecca & Associados

O teórico alemão Theodor Adorno dizia que “forma é conteúdo sedimentado”. Ok, o contexto era outro, mas adapta-se perfeitamente à proposta desta arena no Parque Olímpico de Deodoro, em que os desafios técnicos acabaram por determinar seu traçado leve e elegante. O arquiteto Ronald Werner, do escritório Vigliecca & Associados, autor deste projeto e do próprio complexo esportivo no bairro de Deodoro, explica: “A necessidade de ventilação natural no legado condicionou seu desenho às grandes abas externas para resfriar as fachadas, ventiladas por meio demembranas teladas e painéis pivotantes”.

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Erguida na área remodelada depois de ter sediado os Jogos Pan-Americanos de 2007, a arena, sede do basquete feminino e de lutas de esgrima, será adequada internamente para se tornar um centro de formação e aperfeiçoamento de atletas.

Estádio Aquático Olímpico – GMP Architekten

Oescritório alemão von Gerkan, Marg und Partner, com representação no Brasil, levantou, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, uma obra com estruturas metálicas modulares, duas piscinas e 18 mil assentos. Terminadas as provas de natação e de polo aquático, ela será desmembrada em dois estádios destinados a atletas de alto rendimento. Se as arenas, permanentes ou não, exibem uma simplicidade impregnada de sofisticação estética e conceitual, comsoluções pontuais para todas as exigências dos Jogos Olímpicos, o Estádio Aquático incorporou a arte como agradável surpresa. Uma cobertura na fachada reproduz a obra Celacanto Provoca Maremoto, de Adriana Varejão.

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Centro Olímpico de Tiro – Vigliecca & Associados

Fique de olho, porque é aqui que acontece a primeira prova dos Jogos. Construído em Deodoro pelo escritório BCMF para o Pan-Americano, o Centro de Tiro Esportivo era pequeno para a Olimpíada, que receberá um público três vezes maior. A primeira ideia foi construir uma arena temporária, mas uma adaptação engenhosa levada a cabo pelo escritório Vigliecca & Associados ampliou a área interna.

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“Economizamos quase dois terços do custo previsto para uma estrutura temporária”, relata o arquiteto Ronald Werner. Arquibancadas extras também foram necessárias para acomodar os espectadores. Assim, em vez de 600 lugares haverá 2 mil assentos para quem chegar ávido por ver o tiro de largada dos Jogos Olímpicos.

Arena do Futuro – Oficina de Arquitetos, Lopes Santos & Ferreira Gomes, MBM e DW

Quem for ao Parque Olímpico da Barra assistir ao handebol e ao goalball (este na Paralimpíada), pode se deparar com vigas e outros itens da estrutura gabaritados – isso porque essa arena será desmontada para ser reerguida em quatro diferentes endereços na forma de escolas municipais. Mesmo sendo o mais efetivo exemplo do que se convencionou chamar de arquitetura nômade, o arquiteto Gustavo Martins, da Oficina de Arquitetos, é avesso ao termo. “Ele dá a impressão de uma arquitetura efêmera”, diz. “Para mim, o projeto só estará realmente concluído quando se transformar nas quatro escolas.” A elegante arena, com seus 24.214 m², é obra do consórcio do qual participaram, ainda, a Lopes Santos & Ferreira Gomes, a MBM Engenharia e a DW Engenharia.

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Arenas Cariocas – Aecom e Arqhos Arquitetura 

Elas formam a maior instalação da Barra. Com quase 85 mil m², seguem o preceito de todas as obras, focadas na economia de energia, tanto na captação de luz natural quanto na ventilação. Durante os Jogos, porém, o ar-condicionado é uma exigência técnica. À frente do escritório Arqhos Arquitetura, responsável pelo projeto executivo, Celso Girafa explica que a Arena 1 continuará no legado como ginásio poliesportivo. As outras duas, unidas, formarão um grande centro olímpico de treinamento para atletas de todo o Brasil. Para isso, o espaço contará com alojamento. “Será o único centro desse porte em toda a América Latina”, entusiasma-se Nadja de Almeida, representante da Aecom no Brasil, escritório britânico que igualmente assina o próprio Parque Olímpico da Barra da Tijuca.

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