O aumento de renda, a facilidade de crédito e o aumento de ofertas no mercado imobiliário nos últimos anos não foram suficientes para zerar o enorme atraso do sistema habitacional do País. Atualmente, 5,2 milhões de famílias não têm moradia e a tendência é de que esse número cresça ainda mais nos próximos anos.

Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), encomendada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) aponta que, até 2024, o País terá 16,8 milhões de novas famílias. Desse total, 10 milhões terão renda familiar de até três salários mínimos e poucas chances de inserir no orçamento a prestação de um imóvel. Ou seja, serão necessárias a construção de pelo menos 22 milhões de unidades, já incluindo o déficit atual. Para atender metade dessa demanda, serão necessários R$ 760 bilhões, pelo menos R$ 76 bilhões ao ano.

Para a autora da pesquisa, professora Ana Castelo, o País tem uma dívida enorme com uma parcela significativa da população que ficou à margem do mercado imobiliário pelas restrições de renda. Ela reconhece o papel do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) na oferta de habitação para os mais pobres, mas avalia que são necessárias mudanças no programa e uma maior integração nas ações dos governos federal, estaduais e municipais. “As prefeituras precisam acelerar a concessão de licenças, os preços dos terrenos devem ter um valor justo, além de existir destinação de áreas específicas para as edificações”, detalhou.

Promessas

A burocracia é tamanha que, de acordo com dados do Ministério das Cidades, R$ 241 milhões foram gastos na contratação de 3,7 milhões de unidades nas duas primeiras etapas do MCMV, desde 2009, mas apenas 1,9 milhão de moradias foram entregues. E, mesmo sem a conclusão das outras 1,8 milhão de unidades, uma terceira fase do programa já está prometida. Durante a campanha eleitoral, a Presidente Dilma Rousseff se comprometeu a contratar outros 3 milhões de residências, sem contudo definir as diretrizes da nova etapa.

Alheia às discussões, Sabrina dos Santos, 29 anos, mora com o marido e a filha, Amanda, 1 ano e 9 meses, em um barraco improvisado no Sol Nascente, a segunda maior favela do Brasil, localizada no Distrito Federal. Para fugir do aluguel, ela e o companheiro, que é carroceiro, ocupam há dois anos um terreno em uma das ruas do bairro. A residência improvisada não tem rede de esgoto e quando chove é inundada pela água que corre pela terra. “Ainda temos o problema de violência na região. Já me cadastrei em um programa habitacional do governo, mas é difícil conseguir alguma coisa. A gente sofre bastante”, lamenta.

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