São Paulo — Um novo estudo de tendências e salários no Brasil elaborado pela consultoria de recrutamento HAYS indica que o mercado de trabalho tende a ser um pouco mais receptivo para engenheiros em 2017 do que foi no ano passado, sobretudo no segmento de infraestrutura.

A situação mudou bastante nas últimas décadas, explica Raphael Falcão, diretor da HAYS Experts. Entre 2000 e 2014, a demanda por engenheiros estava a pleno vapor: o investimento em setores como óleo e gás, infraestrutura e telecomunicações resultou em salários polpudos e um “boom” de empregos.

Com a crise econômica e a instabilidade política que se acentuaram em meados de 2014, o cenário ficou bem menos favorável para eles.

Muitos projetos foram travados, inclusive porque players de grande porte foram diretamente implicados nas investigações da Lava-Jato. Falcão lembra também que outros fatores conjunturais também atrapalharam a vida do engenheiro brasileiro, como a queda no preço do barril de petróleo em 2015.

Compasso de espera

Na visão do diretor da HAYS Experts, o mercado começou a se reaquecer entre meados de 2016 e o começo de 2017, com a retomada de investimentos em atividades que exigem a participação de engenheiros. “Empresas chinesas começaram a entrar no setor de energia, trazendo recursos, e o agronegócio continuava a dar bons resultados”, explica Falcão.

Com as novas turbulências políticas trazidas pelas delações de Joesley Batista, dono da JBS, envolvendo o presidente Michel Temer, a incerteza voltou. Resultado: os investimentos foram desacelerados novamente — e os empregadores dos engenheiros entraram em compasso de espera para minimizar os riscos em caso de mudança de governo.

Hoje, diz Falcão, a situação do engenheiro só não é tão desfavorável porque os compromissos assumidos pelas empresas no período de “calmaria” continuam valendo. “Muitos projetos já tinham sido desenhados”, explica. “Por isso, houve um aumento no recrutamento para certas posições em engenharia tanto por parte de empresas brasileiras quanto estrangeiras”, explica.

A situação é diferente da vivida em 2016, quando o foco das companhias estava em reduzir custos, aumentar a produtividade e ganhar eficiência operacional — o que motivou ondas de demissões e a redução no número de vagas para engenheiros de certas especialidades.

Luz no fim do túnel?

Em 2017, continua valendo a busca por melhoria contínua, qualidade e eficiência operacional, mas o ambiente se tornou ligeiramente mais receptivo para candidatos a oportunidades profissionais.

“O segmento de infraestrutura, com destaque para energia e agronegócio, tem perspectiva de aumento das exportações e concentra o maior número de oportunidades”, informa o relatório da HAYS.

O mercado como um todo começa a esboçar uma tímida melhora. Segundo uma pesquisa recente do ManpowerGroup, hoje há mais empresas (12%) que pretendem aumentar o número de funcionários do que reduzir o ritmo de contratações (11%). Isso ocorreu pela primeira vez em dois anos.

Embora o cenário brasileiro continue indefinido como um todo, Falcão tem uma visão otimista sobre o mercado para engenheiros no país.

“O alavancador econômico do Brasil continua sendo o setor infraestrutura, que não existe sem a figura do engenheiro”, diz. “Mais cedo ou mais tarde a carreira voltará a ter um momento de forte aceleração”.

Cargos em alta x cargos em baixa

O estudo da HAYS indica que as posições mais solicitadas em 2017 no mercado de engenharia são as seguintes:

Cargos em alta

Gerente de operação
Gerente de melhoria contínua / qualidade
Gerente de saúde, segurança e meio ambiente
Coordenador de engenharia de confiabilidade

Falcão explica que o gerente de operação é uma figura demandada porque traz para dentro da organização o foco na redução de custos — prioridade inevitável em tempos de crise.

Essa também é uma das missões do gerente de melhoria contínua e qualidade, que também está entre os mais solicitados no mercado de engenharia: ele trabalha para maximizar a qualidade do produto, sem aumentar os custos de produção.

O gerente de saúde, segurança e meio ambiente, por sua vez, é um profissional requisitado sobretudo porque ajuda a reduzir perdas financeiras com processos judiciais nas áreas trabalhista e ambiental.  Ele também tem o papel de apoiar as áreas de marketing e branding, uma vez que contribui para melhorar a reputação da empresa.

Outro profissional em alta, o coordenador de engenharia de confiabilidade é mais conhecido por seu envolvimento no processo de recall de produtos como carros e celulares. Mas seu papel vai muito além. Se a empresa vende caixas de papelão, por exemplo, é o engenheiro de confiabilidade que cuidará para que elas consigam resistir empilhadas a 1000 quilômetros de estrada, e não a apenas 500, como as produzidas por um determinado concorrente.

“Trata-se de uma figura fundamental para as áreas de marketing e vendas porque olha para o produto não só na saída, mas ao longo de um determinado ciclo”, explica Falcão.

Já os cargos menos solicitados, ainda segundo a HAYS, são estes:

Cargos em baixa

Gerente de projetos industriais
Gerente de pesquisa e desenvolvimento

Segundo Falcão, a indústria deve demorar para retomar as contratações, já que a queda no consumo resulta em fábricas ociosas e paralisação de investimentos em ampliação de espaço físico e maquinário, por exemplo. Daí a escassez de oportunidades para o gerente de projetos industriais.

Já o gerente de pesquisa e desenvolvimento está entre os menos demandados porque a crise fez aumentar a aversão ao risco. “Hoje, o movimento das empresas é olhar para seus produtos e serviços já existentes e concentrar esforços nos mais rentáveis, que têm retorno relativamente certo”, explica o diretor da HAYS Experts. Pesquisa e desenvolvimento normalmente recebem investimentos quando a indústria pode investir numa rentabilidade a longo prazo, o que não é o caso por enquanto.

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