Donas de 50,02% da concessionária Norte Energia entre elas Cemig, Light e Vale contrataram o Bradesco BBI para liderar a operação, que envolverá um banco internacional ainda a ser definido; custo total do megaprojeto de geração vai superar R$ 30 bi
A Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, está à venda. Segundo informações obtidas pelo ‘Estado’, as empresas que compõem o bloco de controle da Norte Energia, concessionária que administra a usina, já contrataram o Bradesco BBI para buscar potenciais investidores no Brasil e no exterior. A operação também contará com um banco internacional para tocar as negociações de venda da terceira maior hidrelétrica do mundo, atrás apenas da chinesaThree Gorges e de Itaipu Binacional.
O que está à venda é a parte das empresas Neoenergia, Cemig, Light, Vale, Sinobras, J. Malucelli e dos fundos de pensão Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa). A participação dessas companhias na N orte Energia é de 50,02%. O valor patrimonial de Belo Monte é estimado em R$ 10 bilhões. O projeto, que só será concluído em 2019, ainda exigirá investimentos de, pelo menos, R$ 5 bilhões.
Quando concluída, a hidrelétrica, de 11.233 megawatts (MW) de energia, terá consumido mais de R$ 31 bilhões o empreendimento começou orçado em R$ 18 bilhões. Segundo fontes próximas à empresa, para ficar com a usina, os compradores terão de assumir o financiamento concedido ao projeto de cerca de R$ 22 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A hidrelétrica ainda pleiteia mais R$ 2 bilhões do banco estatal para concluir as obras.
As negociações para a venda da Hidrelétrica Santo Antônio, no Rio Madeira (RO), avançaram mais, apurou o Estado com fontes a par do assunto. A chinesa Spic (State Power Investment Corporation) estaria próxima de levara a usina, desbancando concorrentes chineses e outras multinacionais que chegaram a avaliar o negócio. Fontes afirmam que a multinacional deverá fazer uma proposta firme pelo ativo em março.
O valor total de 100% do ativo de Santo Antônio, que tem capacidade instalada de 3.568 megawatts (MW), é estimado em cerca de R$ 9 bilhões, mas o desembolso deverá ser bem menor, entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões, segundo fontes. O restante estará vinculado ao cumprimentos de metas de desempenho (“earn-out”) e deverá ser parcelado.
A venda da companhia está sendo aventada há alguns meses, uma vez que parte dos acionistas, entre eles o grupo Odebrecht, precisa se desfazer de ativos para fazer caixa. A hidrelétrica foi apresentada a vários investidores, entre eles a chinesa Three Gorges e a canadense Brookfield. Segundo fontes, a Brookfield não levou as conversas adiante.
Procurada, a assessoria de imprensa da Santo Antônio não retornou os contatos até o fechamento desta edição. Nenhum porta-voz da Spic foi encontrado para comentar o assunto. A conta inicialmente orçada em R$ 18 bilhões, Belo Monte deve consumir, no total, investimentos de R$ 31 bilhões
• Condições
R$ 22 bi – É o financiamento concedido pelo BNDES ao projeto; os compradores da hidrelétrica deverão assumir esse valor.
49,98% – é a fatia da Eletrobrás no projeto, que poderá ser negociada.
Antes mesmo da contratação do banco que vai liderar a negociação, algumas chinesas que são consideradas “candidatas” a qualquer processo de fusão e aquisição no País já vinham sondando o empreendimento. State Grid e China Three Gorges que estão há mais tempo no Brasil e abocanharam importantes ativos no setor de energia, como Cesp, CPFL eDuke Energy-já começaram a avaliar a usina. A State Grid, por exemplo, está construindo o linhão que vai distribuir a energia de Belo Monte.
Mais fontes ligadas ao negócio afirmam que, por ser um megaempreendimento, a venda deverá ocorrer para um consórcio. A expectativa é que as negociações sejam acirradas. O empreendimento está envolvido na Lava Jato, que investiga pagamento de propina por parte do consórcio construtor de Belo Monte, formado por Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, OAS e outras cinco empreiteiras menores.
“Há uma enorme preocupação por parte dos investidores que têm negociado ativos de empresas envolvidas na Lava Jato de que o escândalo acabe respingando nos futuros controladores. Se o valor da multa já está estipulado, coloca-se no preço. Caso contrário, a incerteza é grande”, diz um advogado, que prefere não se identificar. Outro entrave é o modelo financeiro adotado em Belo Monte. Analistas que acompanham o projeto afirmam que o retorno do investimento caiu pela metade nos últimos anos por causa das paralisações e multas aplicadas por atraso nas obras.
Procurados pela reportagem, a Norte Energia e Bradesco não comentaram o assunto.