O Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) teve variação acumulada de 7,26% nos últimos doze meses. O indicador, medido pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), ligado à Fundação Getúlio Vargas, leva em conta os reajustes de preços de matérias primas e mão de obra da construção civil. Ao mesmo tempo, mostram dados da Fecomércio/SC, entre janeiro e junho o preço de venda dos imóveis residenciais na Grande Florianópolis subiu 4,77%. As causas mais prováveis para o desaquecimento nos negócios, segundo os técnicos responsáveis pela análise, são a escassez de crédito, o endividamento das famílias e a incerteza causada pela crise econômica. Pressionadas por custos que sobem mais do que os preços de venda, as empresas do setor buscam ganhos de eficiência para se manter competitivas. “O combate ao desperdício e a otimização do trabalho no canteiro de obras são medidas que podem diminuir os custos da construção e contribuir para a rentabilidade dos projetos e a saúde financeira das empresas”, diz a arquiteta Patrizia Chippari, da Espaço Livre Arquitetura Inteligente.
Patrízia diz que alcançar a eficiência na construção de um prédio é trabalho que começa bem antes da colocação dos primeiros tijolos. O ideal, afirma, é a construtora envolver o arquiteto desde a escolha do terreno. “Em todos os projetos, é muito importante que o arquiteto analise o terreno e contribua para a viabilidade do negócio”, diz. “Na análise inicial ele vai analisar aspectos como orientação solar e posicionamento da obra no terreno”, completa Patrízia. A insolação e a posição do edifício podem afetar, por exemplo, a eficiência energética do projeto.O trabalho desde as fases iniciais do projeto possibilita ainda que o arquiteto melhore o planejamento e as especificações das obras – forma de garantir que a edificação concluída esteja de acordo com o que foi desenhado nas fases iniciais do desenvolvimento dos projetos. “Quanto mais detalhado o planejamento, menores as chances de surpresas na execução. É importante para o empresário ter segurança de que não ocorrerão “surpresas” no orçamento ou mudanças na estética daquilo que foi planejado”.
Com 18 anos de experiência na área, uma das ferramentas usadas pela diretora do Espaço Livre é a chamada compatibilização – a sobreposição harmoniosa dos diversos projetos de arquitetura e engenharia necessários para a construção de um empreendimento (estrutural, hidrosanitário, de instalações elétricas, entre outros). Segundo os especialistas, o investimento na compatibilização representa despesas equivalentes a 2% do custo total da obra. Em contrapartida, o trabalho reduz de 5% a 10% os custos dessa mesma obra. Isso ocorre porque a sobreposição e a harmonização dos projetos de arquitetura, feitas no computador por arquitetos especializados, evita que ocorram alguns problemas que consomem muito tempo e geram desperdício no canteiro de obras – a previsão que um cano tenha de passar exatamente onde há uma viga, por exemplo. “Quando isso ocorre durante a obra, com a estrutura já de pé, é necessário encontrar soluções alternativas empíricas, quebrando a parede pronta para fazer desvios na tubulação, por exemplo. Isso gera perdas de material e de tempo, um item importante já que representa custo de mão de obra”, diz Patrízia.
Uma pesquisa do Programa Habitare, desenvolvido por universidades de todo o País e ?nanciado pela Finep, identi?cou que a construção civil gasta, em média, 56% a mais,em peso, de cimento do que seria o previsto para uma obra.O índice é de 44% para a areia e de 15% para tubos de PVC e eletrodutos. Em média, dizem os pesquisadores, o impacto ?nanceiro da perda de material transformado em resíduo chega a até 8% do custo do projeto.
Estudos técnicos comprovam o que soa bastante lógico: quanto mais avançada a obra, maiores as dificuldades de corrigir problemas de planejamento. Quando o edifício ainda está no papel, eventuais ajustes exigem tempo e técnica. No canteiro de obras, os mesmos acertos demandam quebra de paredes e descarte de material. “O envolvimento do arquiteto desde o início da obra pode exigir o gasto de mais horas de trabalho na fase inicial de projeto. Mas os ganhos de eficiência posteriores compensam”, diz Patrízia.