Você tem ideia da maneira como a cadeia da construção civil contribui para o desenvolvimento do país? Responsável pela execução de obras residenciais, edifícios comerciais e infraestrutura, como mobilidade urbana e saneamento básico, o setor gera 10 milhões de empregos e movimenta 9,9% do Produto Interno Bruto (PIB), com potencial para alavancar ainda mais a economia.
Na construção civil, assim como em outros setores, pode ser aplicado o conceito de cadeia de valor do professor norte-americano Michael Porter, que ajuda a analisar as atividades que envolvem as indústrias. “Ele diz que a cadeia de valor são todas aquelas etapas do processo produtivo que a empresa agrega valor”, explica o especialista em competitividade do Sebrae, Renato Perligeiro. Na construção civil, ela vai desde a extração dos materiais até a aplicação na obra e seu uso. Um exemplo é o barro que gerará peças de cerâmica que depois serão usadas nas edificações.
Cada etapa da cadeia produtiva da construção civil agrega valor ao produto final. Esse encadeamento envolve diversos setores, desde a extração de matéria-prima bruta, como minérios, até a indústria de materiais de construção, o comércio dos produtos, setor de serviços como engenharia e arquitetura, as construtoras que executam a obra e o posterior uso e operação. “A importância da cadeia de valor da construção civil é a geração de riquezas. Tem um efeito muito rápido na economia”, comenta Perligeiro.
R$ 180 bilhões em impostos
A construção civil é um grande impulsionador da economia brasileira. No auge dos investimentos no país, entre 2003 e 2014, ela chegou a representar 12,4% do Produto Interno Bruto (PIB), com um investimento de R$ 809 bilhões e recolhimento de impostos na casa de R$ 180 bilhões. O consultor do Departamento de Construção Civil da Fiesp, Fernando Garcia, destaca que nesse período ele também teve um impacto grande na geração de emprego e renda, com 12,2 milhões de postos de trabalho, ou seja, 13% de todos os trabalhadores do país atuavam nessa cadeia.
Mesmo após quatro anos de crise, o setor ainda mostra sua força. Em 2017, o investimento em obras representou 9,9% do PIB, com R$ 648 bilhões, e mobilizou 10,6 milhões de trabalhadores. Os números de 2018 se assemelham às estatísticas do ano anterior. Até o terceiro trimestre, a construção civil participou com 9,5% do PIB e empregou cerca de 10,3 milhões de trabalhadores, segundo Garcia. A comparação com outros países com nível de desenvolvimento semelhante mostra que o setor ainda tem possibilidade de crescimento. Essa cadeia produtiva representa 12,7% do PIB do Chile e 12,6% do PIB do México. “O governo tem que correr atrás, porque é um impacto grande na qualidade de vida”, destaca.
Esse reflexo se dá, por exemplo, quando uma família se muda para uma habilitação de qualidade superior. O setor residencial, o principal da construção civil, tem uma demanda de 1,2 milhão de moradias por ano. Mas há também toda a necessidade de obras de infraestrutura, mobilidade urbana, energia e saneamento básico, melhorando a vida das pessoas e estimulando o emprego.
Hoje entre os cerca de 13 milhões de brasileiros desempregados, cerca de 2 milhões trabalhavam antes na construção civil. Garcia ressalta que muitas dessas pessoas são jovens de baixa formação, que o setor poderia absorver com facilidade, caso aumentem os investimentos. “A construção civil é um mecanismo efetivo no combate ao desemprego, o que tem reflexo na segurança pública e na saúde”, salienta.