O engenheiro britânico Tal Golesworthy está acostumado a desmontar as coisas, detectar o que está errado e remontar tudo, resolvendo o problema. Mas por mais de 30 anos, ele conviveu com um problema de saúde sem solução fácil.
Até que, inspirado em seu próprio jardim, combinou alguns dos procedimentos básicos da indústria aeronáutica e desenvolveu uma solução “bela e simples” para sua condição cardíaca, um dispositivo que estabiliza um vaso sanguíneo do coração impedindo que se dilate em demasia.
Após achar a solução, ele conseguiu convencer médicos a implantá-la em seu corpo. E nove anos depois da cirurgia, ele conseguiu ajudar outras 30 pessoas com uma condição semelhante. O engenheiro está fazendo um apelo a cirurgiões na Europa para que comecem a testar seu aparelho em substituição a tratamentos mais convencionais.
Veja neste fascinante vídeo do TED o engenheiro mecânico Tal Golesworthy contar como foi que ele reparou seu próprio coração, usando seus conhecimentos de engenharia mecânica (especializado em caldeiras e incineradores) e o auxílio de um cardiologista.
Confira abaixo o video legendado.
Como uma mangueira
Golesworthy tem a síndrome de Marfan, um distúrbio que provoca falhas nos tecidos conectivos do corpo. Esses tecidos normalmente agem como suporte para os órgãos principais, fazendo com que eles fiquem no lugar e no formato certo.
As pessoas com essa síndrome têm problemas com seus olhos, juntas e coração. Quando o coração bate, fazendo o sangue fluir pelo resto do corpo, a artéria aorta se expande para acomodar o fluxo. Na maioria das pessoas, a aorta relaxa, e volta ao seu tamanho normal quando o fluxo diminui, mas isso não acontece com as pessoas que sofrem a síndrome de Marfan. Nelas, a aorta continua se expandindo, e fica cada vez maior, com o tempo.
Desde cedo na vida, Golesworthy sempre esteve ciente de que estava convivendo com o risco de sua aorta expandir tanto que poderia explodir um dia. Durante uma consulta médica em 2000, ele recebeu a recomendação de se submeter a uma cirurgia preventiva. Mas ele se disse pouco entusiasmado com essa perspectiva. A cirurgia tradicional é complexa, e requer a substituição da aorta por uma veia artificial.
Golesworthy não aceitou ‘viver em um casulo de algodão’ sem poder praticar atividades arriscadas. Isso significa que ele teria que tomar remédios para o resto da vida para deixar seu sangue mais fino, fluindo mais facilmente pelas veias. Esse tipo de medicamento traz um risco grande, pois até mesmo um pequeno ferimento com sangramento pode acabar se transformando em uma hemorragia.
Como Golesworthy é muito ativo – e gosta de esquiar – essa solução não lhe pareceu boa o suficiente.
“Eu não queria viver a minha vida dentro de um casulo de algodão, e pensei que eu próprio poderia inventar algo menos invasivo e complexo, que não exija que parte do meu coração seja removida”, diz.
Sua solução partiu de um pensamento bastante direto.
“Se a mangueira no jardim está cedendo, ela ganha um revestimento de fita adesiva. É rústica e simples, e todos nós já fizemos isso no nosso jardim.”
Convencer os médicos não foi fácil. Mas ele conquistou a confiança dos médicos londrinos Tom Treasure, do Guy’s Hospital London, e John Pepper, Royal Brompton Hospital. O processo foi aperfeiçoado ao longo de três anos. O resultado foi um revestimento colocado dentro – e não fora – da aorta, pois a cirurgia seria mais simples. Golesworthy foi o primeiro paciente a testar o método. Ele conta que o dia da cirurgia foi o mais assustador de toda a sua vida.
“Passei toda a minha vida profissional administrando vários projetos, mas claro que esse era completamente diferente. Era eu quem estaria na mesa de operação desta vez.”
A cirurgia no hospital Royal Bormpton durou duas horas. Há nove anos, a aorta do engenheiro parou de crescer.
“De repente, minha aorta ficou estável, e comecei a respirar facilmente, dormir bem e relaxar como não fazia há anos.”
Desde a experiência, outras 30 pessoas já receberam a inovação em Londres. Como outras cirurgias, ela tem muitos riscos. A maioria das pessoas se adaptou bem à novidade, mas houve o caso de um paciente que morreu.
O jogador de futebol Andrew Ellis se beneficiou da criatividade de Golesworthy. Aos 27 anos de idade, Ellis disse que teve medo de se submeter a um procedimento médico testado em um número tão pequeno de pessoas, mas agora ele se diz contente por ter aceitado fazer a operação. Cinco anos depois da cirurgia, ele segue saudável e em forma. Ele diz que se sente “como uma pessoa que não tem problemas cardíacos”.