O estudante de engenharia Matheus Cardoso, de 21 anos, cresceu em um bairro que submerge em água poluída e esgoto a cada pé-d’água que assola a cidade de São Paulo. O nome do bairro já denuncia as condições dos 7.500 habitantes que vivem ali: Jardim Pantanal. Na Zona Leste da cidade, é um aglomerado de barracos na várzea do Rio Tietê. Matheus cresceu vendo a triste sina de familiares, amigos e vizinhos acuados pelas inundações. “Morei lá por 20 anos”, conta Matheus. “Vi amigos e vizinhos perder tudo com as enchentes e ter problemas com a apropriação de terra.”

O drama levou Matheus à ação. Desde criança, ajudava a arrecadar roupas e comida para os atingidos pelas enchentes. “Era uma solução para o momento, mas eu queria ajudar de modo mais estrutural”, afirma Matheus. Ele prestou vestibular para engenharia e, com bolsa de estudos, entrou na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Fez estágio numa grande empresa e, depois, resolveu criar um negócio próprio e enfrentar os problemas que o incomodavam. Fundou o Moradigna, uma empresa que melhora as condições de vida em bairros de baixa renda, por meio de reformas nos imóveis e regularização dos documentos dos terrenos.

Parece uma ONG, mas não é. “Não arrecadamos dinheiro nem fazemos nada de graça”, diz Matheus. “Dependemos da venda dos serviços para ter impacto em cada vez mais famílias.” O Moradigna é um negócio social: busca o lucro e o usa para conseguir benefícios para a coletividade. Tem dois serviços principais. O Regularize Já orienta moradores na documentação do imóvel. O Reforma Express dá às casas condições adequadas de salubridade. A empresa responde por todas as etapas da reforma, do projeto à execução. Mantém os preços baixos graças à eficiência e ao foco. Desde setembro de 2015, reformou 100 casas no Jardim Pantanal. Matheus pretende fechar o ano com 500 obras entregues e faturamento de R$ 1 milhão. No jogo de computador e febre mundial Minecraft, há quem empenhe meses e meses em construir bairros, cidades e mundos num ambiente virtual. Matheus tem o tempo a seu favor e, numa saudável megalomania, quer  mudar e reconstruir o mundo real. “Meu propósito é mudar e melhorar a realidade não só de meu bairro, mas de todos os bairros semelhantes no Brasil e no mundo. Eu me envolvo em várias iniciativas que me ajudam nesse sonho”, diz.

Ele gosta de contar o caso de Alice, moradora do Jardim Pantanal e símbolo dos resultados buscados pelo Moradigna. “Depois da reforma, criamos uma garagem, e ela ganhou duas vagas de automóvel para locação. Criamos uma fonte de renda para ela”, afirma.

Em abril de 2015, o Moradigna ganhou apoio de uma das maiores aceleradoras de negócios sociais do mundo, a Yunus Social Business, do economista Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006. “Depois da jornada na aceleradora, a partir de setembro, voltamos a oferecer os serviços para a comunidade, com estrutura maior e melhor”, afirma Matheus. O que ele recomenda a quem está na dúvida se consegue fazer algo parecido? “Todos podemos empreender. É um modo de ver e conduzir as coisas.”

Matheus Cardoso (Foto: ÉPOCA)

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