Entre tapumes, interdições, poeiras e atrasos, a rotina de quem vive próximo das prometidas estações do monotrilho de São Paulo, da linha 15-Prata do Metrô, sofre mudanças nos últimos nove anos, devido às obras realizadas pelo Governo paulista.
A rua da futura estação Jardim Planalto, na zona leste de São Paulo, é dominada por funilarias, serralherias, borracharias, além de lojas para peças de carros e materiais de construção. Os donos dos negócios, que também moram na região, dizem que as obras atrasadas também atrasam a vida dos moradores.
“Estão fazendo há tanto tempo que nem dá mais para lembrar os prejuízos, mas sei que ficou muito ruim aqui por causa dos desvios no trânsito que fez, agora tem que dar uma volta bem maior para chegar em casa”, diz o borracheiro José Medeiros, 66 anos, que trabalha e mora próximo da futura estação.
Na esquina oposta à futura estação Jardim Planalto, uma lanchonete vazia, sem nenhum salgado na estufa, com apenas o dono e o filho conversando encostados no balcão. “Hoje pode dizer que eu sou um comerciante quebrado”, diz Lauro Silvério Filho, 58 anos.
Comerciantes reclamam de obras do monotrilho
Ele conta que tem o comércio há 14 anos, mas nos últimos oito — no período de construção da estação — vive uma decadência. “Eu tinha cinco funcionários e hoje trabalha só eu e minha mulher”, afirma. A perspectiva dela é que aconteça o mesmo que outros comerciantes da região: ter o negócio fechado.
Além dos prejuízos causados pela obra, Silvério afirma que mesmo depois de prontas as estações “vão ser só para dar votos para políticos”. Para ele, apenas as pessoas que vão trabalhar em bairros nobres paulistano vão se beneficiar da linha.
“Vai ser bom para quem vai para Vila Madalena, Paulista. Agora para o povão mesmo, que vai para o Mercadão, Parque Dom Pedro, vai continuar pegando ônibus porque as estações não vão atender essas áreas mais populares”, diz Silvério.
O filho do comerciante, dono de um bar em um bairro um pouco mais afastado da estação, afirma que não afetou o movimento de seu comércio, mas “piorou muito as ruas aqui, andar de carro ficou uma porcaria e o trânsito afeta todos, de carro ou de ônibus”. Isso acontece porque, segundo eles, houve interdições e desvios em pistas da região.
E a estação Jardim Planalto é apenas a primeira da linha depois das seis que estão prontas. Das estações em funcionamento, apenas Vila Prudente e Oratório, finalizadas em 2014, atendem em horário comercial.
Entregues com quatro anos de atraso, em abril deste ano, as estações São Lucas, Camilo Haddad, Vila Tolstói e Vila União funcionam apenas para visitação, de segunda à sexta das 9h às 16h. Além dessas estações, outras quatro deveriam ter sido entregues em 2014, com a linha chegando até São Mateus.
Estações da Linha 15-Prata funcionam em horário especial
Kaique Dalapola/R7
Ainda havia a promessa de entregar em 2016 a última etapa, finalizando a linha 15-Prata, que entregaria outras seis estações, até a Cidade Tiradentes. Ao todo, são 24,5 km de monotrilho.
As estações do monotrilho são prometidas desde abril de 2009, quando os então prefeito e governador Gilberto Kassab e José Serra, respectivamente, iniciaram convênio para atender a população com o transporte. As obras iniciaram no ano seguinte e, desde então, a linha é marcada por atrasos.
Outro lado
O Metrô afirmou que todas as construções de grande porte exigem altos investimentos e tempo considerável, pela dimensão e complexidade das obras, que podem sofrer intercorrências como demora na obtenção de licenças ambientais e complicações em processos desapropriatórios, ou até mesmo o abandono das obras pelas empreiteiras.
“As obras metroviárias estão sujeitas, não somente a estas variáveis, mas também à crise econômica que se instalou no Brasil nos últimos anos”, explicou a nota.
Ainda segundo o Metrô, a empresa que construía as estações Jardim Planalto, Sapopemba, Fazenda da Juta e São Mateus, reduziu drasticamente o efetivo e por este motivo foi notificada, multada em valores ultrapassam R$ 7,7 milhões e teve contratos rescindidos.
Para a conclusão dos serviços, a companhia disse que esta se empenhando para publicar novo edital em dezembro. “A meta para a assinatura do novo contrato é março e a previsão de retomada das obras em abril. O prazo de conclusão dos serviços estimado é outubro de 2019.”
Quanto aos horários, a nota diz que as estações São Lucas, Camilo Haddad, Vila Tolstói e Vila União, funcionam na modalidade de “Visita Assistida”, sem cobrança de tarifa, de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h.
A operação nesse formato é padrão internacional e permite a maturação do funcionamento de equipamentos e sistemas. Esta linha funciona com o sistema CBTC UTO (Unattended Train Operation), totalmente sem operador. Assim, todas as possíveis rotas de circulação dos trens, inclusive no pátio, precisam ser testadas e aprovadas para que o sistema seja liberado de forma completa dentro do contrato firmado com a Bombardier.
A previsão é de que os testes do sistema de sinalização e comunicação sejam concluídos neste mês, quando o horário de atendimento deverá ser ampliado.