São Paulo – Comprar um apartamento é cada vez menos visto como um sonho de consumo para jovens, solteiros ou famílias pequenas. A tendência, de acordo com a construtora Vitacon, é morar em lugares menores, próximos ao trabalho, e se mudar com mais frequência. Por isso, a empresa construtora busca atender a essa demanda: ergueu um prédio com 100 apartamentos, mas não irá vender nenhum deles.

Todos os imóveis serão alugados pela própria construtora, por períodos de poucos dias até três anos. Por meio do site, semelhante ao Airbnb, faz as reservas, contratos, o check in e check out e a limpeza. Aberto em outubro, o prédio está na região central de São Paulo e conta com uma academia, lavanderia coletiva, restaurante, salas de reunião, espaço para eventos e uma pequena vendinha com lanches e bebidas. Até o fim de 2019, a empresa irá inaugurar outros quatro prédios no mesmo modelo.

Além do imóvel voltado inteiramente ao aluguel, a companhia também administra locações de apartamentos vagos em suas outras construções. A VN Stay foi criada há dois anos e em operação desde 2017.  “Queremos substituir a moradia”, diz Alexandre Frankel, CEO da Vitacon. Para o empresário, “é cada vez menos importante comprar um apartamento”, o que pode ser problemático para uma construtora.

A empresa lançou imóveis no valor de 830 milhões de reais em 2017 e deve chegar a 1,23 bilhão de reais em 2018. Mas cerca de 15% dos faturamento da companhia vem de fontes que não a venda de imóveis, como decoração, locação e serviços, como televisão, concierge, manutenção e limpeza.

A inspiração veio da avaliação do perfil de clientes da Vitacon. Hoje, 80% dos clientes da empresa compram com a finalidade de alugar e apenas 20% compram pensando em morar na empresa. Para abocanhar parte do mercado de aluguel, a empresa decidiu criar uma plataforma para operar os apartamentos de outros proprietários. Atualmente, há 200 apartamentos na plataforma, a uma taxa de ocupação de 96%, e a empresa recolhe uma taxa de 20% de cada aluguel.

O modelo deu tão certo que a empresa paulistana busca expandi-lo para o resto do país. Além de erguer os próprios prédios, irá firmar parcerias com construtoras para operar seus apartamentos vagos.

Com o ganho de escala, a empresa também busca acumular mais dados e inteligência. Já existe um sistema para precificar os aluguéis de forma dinâmica, com preços maiores conforme a procura, mas a ideia é reunir outros dados, como a ocorrência de eventos ou conferências que aumentem a demanda em certo período. As fechaduras inteligentes também registram a entrada e saída dos moradores e os momentos mais tumultuados.

Além do aluguel, outra fonte de receitas da companhia é a decoração dos apartamentos e áreas comuns, a partir da divisão VN Decor. As construtoras costumam entregar os empreendimentos sem nenhum móvel ou acabamento, mais difíceis de comercializar, ou contratam uma empresa especializada para fazer a decoração. “As receitas da decoração iam para outra empresa, agora trouxemos para dentro do grupo”, diz Frankel.

Desde sua criação, em 2009, a construtora ergueu 54 prédios na cidade de São Paulo e conta com 10 mil clientes, a maioria de investidores A XP investimentos, a ABVep e a Hines estão entre os principais investidores. São  apartamentos pequenos, que podem chegar a apenas 10 metros quadrados, inspirados no estilo minimalista japonês, com móveis planejados e multiuso.

Ela mantém crescimento enquanto o setor de construção civil encolhe desde 2014. De olho no modelo do Airbnb, a construtora encara a transformação do setor como oportunidade para novas fontes de receita.

Área comum para trabalho e descanso em empreendimento da construtora Vitacon

 Área comum para trabalho e descanso em empreendimento da construtora Vitacon

Área comum para trabalho e descanso em empreendimento da construtora Vitacon (Karin Salomão/EXAME)

Apartamento em empreendimento da construtora Vitacon

 (Karin Salomão/EXAME)

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