Na primeira década dos anos 2000, época em que o Produto Interno Bruto (PIB) chegou a crescer 7,6% ao ano, a produtividade média anual do país avançou apenas 1,4%. Estudos sugerem que não houve saltos expressivos nos níveis de eficiência desde a conclusão do processo de industrialização do Brasil, na década de 1980. O debate sobre a baixa produtividade brasileira não é novo. Independentemente do critério que se utilize para medi-la, o baixo desempenho registrado na maioria dos setores é um fator estrutural da economia.
“A migração dos trabalhadores da agricultura para a indústria constituiu-se numa característica importante do processo de desenvolvimento do país até os anos 1980, quando a participação da indústria no PIB parou de crescer e começou a perder espaço”, afirma o estudo Os dilemas e os desafios da produtividade no Brasil, elaborado pela diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fernanda de Negri, e pelo consultor legislativo do Senado Federal Luiz Ricardo Cavalcante.
Nos países concorrentes do Brasil, a eficiência caminhou em sentido contrário. Um estudo elaborado pelo professor da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Ellery indica que, entre 1970 e 2011, nos Estados Unidos, a produtividade do trabalho cresceu 85%, a produtividade do trabalho ajustada pelo capital humano 58% e a Produtividade Total dos Fatores (PTF), que reúne indicadores como capital, trabalho, e capital humano, cresceu 38%. Nesse mesmo período, no Brasil, a produtividade do trabalho cresceu 74%, apenas 4% quando ajustada por capital humano, e a PTF caiu cerca de 10%.
O estudo Indústria brasileira: da perda de competitividade à recuperação?, publicado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra como essa realidade impactou a inserção do país no comércio internacional. A participação brasileira no valor adicionado de manufaturados do mundo encolheu de 1,85%, em 2003, para 1,66%, em 2013. “Apesar de mostrar recuperação em alguns anos, a tendência de longo prazo é de queda. Na comparação com 1993, a participação brasileira no valor adicionado de manufaturados caiu 0,46 ponto percentual”, aponta o documento.
FATORES ESTRUTURAIS – Em sua análise, de Negri e Cavalcante destacam que essa persistência da baixa produtividade brasileira por décadas só pode ser explicada por fatores estruturais. Eles enumeram três deles, considerados cruciais. O primeiro diz respeito à tecnologia. Na atual estrutura produtiva brasileira, os setores têm baixa capacidade de incorporar tecnologias e, assim, produzir melhores produtos. A baixa qualidade da educação e a formação inadequada da força de trabalho também têm impacto importante.
As deficiências de infraestrutura são reconhecidas como outro fator relevante. “Décadas de baixo investimento deixaram patente a insuficiência crônica de infraestrutura para sustentar o processo de crescimento econômico brasileiro”, destacam os pesquisadores. Para a indústria de transformação, o setor da economia que mais perdeu produtividade na primeira década de 2000, isso é primordial.
TEMPOS DE CRISE – O diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, afirma que a ineficiência é resultado de uma conjugação de fatores internos e externos às fábricas. Além da infraestrutura precária, ele menciona o excesso de burocracia, a tributação complexa e o ambiente de negócios desfavorável. “Sabemos, porém, que precisamos melhorar as práticas dentro das empresas, principalmente por meio da inovação e de gestão. Há muito que pode ser feito para aperfeiçoar os processos de produção”, diz.
Se a baixa produtividade brasileira não foi uma questão solucionada nas fases de crescimento econômico, agora, em tempos de recessão, ela se torna um problema ainda mais difícil. A medida mais abrangente de produtividade é calculada pela relação entre PIB e número de pessoas trabalhando. “Nesse momento, só é possível aumentar a produtividade se o Brasil demitir mais pessoas do que a economia cair. Mas isso não é opção, porque aprofundaria ainda mais a recessão”, explica Fernanda de Negri, ao ponderar que o contexto atual deve também promover um ajuste, eliminando empresas menos produtivas.
Para ela, o primeiro problema que deve ser solucionado na economia brasileira é a questão fiscal. “É preciso resolver a dívida pública para dar um pouco de horizonte aos agentes financeiros. Isso envolve reforma da Previdência e uma série de outras reformas, difíceis de serem feitas, mas necessárias”, avalia. O fundamental – ressalta ela – é que não há receita simples.