Em meio ao isolamento e à ameaça de uma profunda crise econômica e social, dois setores se planejaram, mantiveram as atividades e estão sendo responsáveis por amenizar os impactos do novo coronavírus no Brasil: o agronegócio e a construção civil. O agronegócio, segmento que sempre foi protagonista na economia, está ativo e, com isso, as famílias brasileiras continuam com alimento na mesa. Mais do que isso: o país permanece abastecendo o mundo, causando reflexo positivo para a atividade econômica.

De acordo com Pineda, o agro brasileiro continua vendendo 80% da soja para a China, e segue sendo o maior exportador de carne. “O setor sempre foi o protagonista da economia, por ser o responsável pelo superávit da balança comercial. Em um momento de crise, com o fechamento do comércio e a paralisação da prestação dos serviços, o agro é a esperança de que a economia brasileira siga funcionando”, disse.

Se, por um lado, o agronegócio ainda garante estabilidade econômica; por outro, gera conforto para a população brasileira neste momento delicado. A advogada destaca que ainda não há uma percepção geral da importância em acompanhar essa cadeia, em função de 85% das pessoas viverem nas cidades. No entanto, Pineda destaca que é devido à atuação do agro que há a possibilidade de quarentena, uma vez que não há risco de desabastecimento dos mercados.

Até agora, o maior impacto aconteceu no setor da cana de açúcar, por conta da queda do consumo de etanol. Outro baque pode vir das exportações, uma vez que os países asiáticos são grandes consumidores de produtos brasileiros, assim como a Europa e os EUA. No entanto, Samanta Pineda destaca que o Ministério da Agricultura tem trabalhado com habilidade, em contato com os compradores e repensando prazos e formas de contratação.

Especialista em direito socioambiental pela PUC do Paraná, a advogada destacou a importância de acompanhar as ações durante o surto, uma vez que há decisões diárias desde o início da epidemia no Brasil. “A gente percebe que muitas medidas vem sendo tomadas diariamente. O Ministério da Agricultura criou o comitê de gerenciamento de crise, que vai desde a parte de manter o produtor rural no campo, produzindo o que é essencial para o consumidor; até a logística, para que não haja desabastecimento. Toda a cadeia produtiva vem sendo contemplada por medidas governamentais para garantir uma quarentena segura”, disse, ressaltando que o agro está na lista de serviços considerados essenciais.

Financiamento é obstáculo

O diretor da Fiagril, Luiz Gustavo Silva, destacou as medidas que a empresa, uma das maiores do setor, adotou desde o início da crise. A sede, no Cuiabá, está fechada, com 100% dos funcionários trabalhando em esquema de home office. As lojas estão com o menor número de pessoas possível, apenas em atividades necessárias – como a emissão de nota fiscal, por exemplo. Os funcionários da linha de frente estão recebendo todo o material recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como máscaras e álcool em gel. O empresário destacou que o trabalho virtual não impediu as atividades. “Continuamos a financiar o produtor com insumos, fertilizantes, sementes e químicos. Estamos funcionando da mesma forma. A diferença é que antes, tudo era muito presencial, e agora estamos fazendo os negócios por telefone”, disse.

Luiz Gustavo afirmou que a pandemia do novo coronavírus impõe alguns desafios para o agro no país. Um deles é a questão logística, que é feita majoritariamente por via terrestre. Até agora, não há grandes entraves: as estradas estão liberadas para o trânsito de produtos e os restaurantes e lojas de conveniência estão abertos, garantindo suporte e comodidade para os caminhoneiros. No entanto, a questão está sendo monitorada com muita atenção.

O principal desafio, no entanto, é a questão do crédito e do financiamento. “Todo o agro é financiado por instituições financeiras. Estamos falando de 15% do Produto Interno Bruto só na parte de grãos. Estamos aguardando o apoio dos grandes bancos para poder suportar a demanda financeira que temos do financiamento da safra”, disse Luiz Gustavo Silva.

Em São Paulo, construção civil avança

Utilizando os protocolos estabelecidos pela OMS, o setor de construção civil em São Paulo também não parou. No maior Estado do país, há cerca de 40 mil unidades em obras. Os funcionários com mais de 60 anos foram afastados; os horários são flexíveis, para não haver contato; e os profissionais estão espaçados. Outras funções estão sendo exercidas de maneira remota, como o Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais (Graprohab), órgão que é responsável por aprovar loteamentos, empreendimentos, conjuntos e condomínios.

Segundo o Secretário de Habitação do Estado, Flávio Amary, as medidas permitiram a continuidade dos trabalhos, de acordo com as recomendações das autoridades. “As obras continuam, seguindo todas as determinações estabelecidas pelos órgãos de saúde. Continuamos entregando casas, de forma administrativa, sem festividade”, afirmou.

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